- Juliana Pina
Agosto
É agosto.
Tenho 26 anos.
No espelho, esse rosto
é um engano.
Tenho pressa.
Não entendo o porquê
dessa
len
ti
dão
da vida que insiste em
caminhar a passos miudinhos
quando quero correr.
Falar comigo mesma, meus segredos baixinhos
é uma forma de não me esquecer.
Não tenho entendido muita coisa,
mas cozinho o tempo
e ouço uma ruga nascer
beijo o vento
vejo um fio de cabelo morrer.
Estou pandêmica há tanto tempo
que a solidão, que deveria ser consequência,
se tornou sintoma.
Minha cabeça dói,
meu corpo não tá funcionando tão bem.
A mera existência é suficiência.
Sobreviver is the new black.
Viver só de saudade por enquanto.
Inclusive de me ver no espelho,
sem enganos.
É agosto.
Nasci numa segunda-feira.
Que dia será que vou morrer?
Pra isso não tenho pressa.
Quero estar em dia com o tempo.